Resenhas


Bazzo, Ezio Flávio. Vagabundo na China. Brasília: Lillyth publicadora, 1991.

Portando uma câmera Canon e diversas lentes, seu olhar arguto, seu sentir trabalhado e sua forma peculiar de interpretar o mundo, Ezio Flávio Bazzo, foi até a China em 1991, como vagabundo – aquele que não tem compromisso nem consigo mesmo – e nos trouxe este livro exótico, no formato e no conteúdo.

  • Seria um tabloide com notícias sobre o país de Mao?
  • Seria um livro que passa em revista toda a concepção histórica desse mundo monumental, assim, num piscar de olhos?
  • Seria um guia de viagem para pessoas mais exigentes?
  • Seria um documentário para o mundo ou seria um livro para ninguém? O livro é tudo isto reunido. Algo meio indefinido que contém impressões, sensações, referências, pinceladas, clicks que o autor parece ter feito para guardar para si, mas os divide conosco. Pequenas doses de uma China que ninguém viu, episódios que ganham significado no relato pela forma como são apresentados. No formato, se apresenta maior que os livros comuns, suas orelhas são de abano, seu texto está dividido em duas colunas, está ricamente ilustrado com fotos do autor e, antecedendo a folha de rosto, o título da obra aparece desenhado em ideogramas chineses. Abaixo, uma nota bazzoniana, completamente cínica: título traduzido para o chinês por M… Uma chinesa anônima. Na abertura, um pensamento de Chateaubriand : ” as pessoas que nunca navegaram têm dificuldade para entender os sentimentos que se experimenta quando, do convés do navio, já não se vê mais do que a face austera do abismo.” Assim, ele nos apresenta à China. No recorte, é o livro que mais revela o autor, seu sentir incomum, suas experiências simples e plenas de significados, a fala e olhar do homem que transita bem pelos planos heterogêneos da realidade e da alma e desliza sorrateiramente para um entendimento maior da vida, onde tudo se aproxima e se assemelha. É a câmera virada para si mesmo mas cercada das cores da China, do existir desse povo que ocidentais jamais compreenderão suficientemente. O livro nos leva embora e só nos traz de volta no que ele denominou de “epílogo inesperado” onde recebemos de presente uma entrevista que Emil Cioran concedeu a um jornal francês. Cioran, considerado pelo autor, o filósofo mais interessante da atualidade, fecha o livro, assim, sem mais nem menos. Como se tudo, de fato, estivesse interligado, e só não percebéssemos. Este é um livro que nos leva com maestria para as dobras da nossa emoção introspectiva- esta grande e maravilhosa viagem!

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Bazzo, Ezio Flávio. Entre os gritos do carcará e a desfatez da raça humana. Brasília: Createspace, 2006.

Neste instigante livro, Ezio Flávio Bazzo realiza um voo espetacular sobre o fato de estar vivo, aqui, agora, em qualquer lugar, a qualquer hora, tendo como pano de fundo o sertão Sanfranciscano, num Brasil perdido de sua própria história.

Através de uma narrativa que mescla pleno domínio das usuais formas acadêmicas de expressão com o conhecimento empírico da vida, usa palavras elaboradas e palavras “chulas” como se quisesse nos dizer que viver é essencialmente, transitar por entre as grandes e contraditórias dimensões da realidade, e apenas isto.

Salpicando o texto de erótica sensualidade, Bazzo transita facilmente e com aparente despretenção pela cultura cristalizada desses rincões perdidos, atravessando sorrateiramente as questões ambientais, político-sociais, éticas, morais e históricas deste pedaço de Brasil entregue à própria sorte.

Trabalhando apenas com a realidade nua, desprovida de sentimentos, emoções e ideais, vai recheando a narrativa com estilhaços que doem, e vai linkando às suas impressões descritas, teses que empalidecem rostos complacentes, esbofeteiam sorrisos, desnudam a credulidade cega, e sobretudo, incendeiam qualquer resto de esperança.

Esse livro é essencialmente, um grande e articulado GRITO!

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RESENHA

Bazzo, Ezio Flávio. A lábia encantadora de João do Rio. Brasília: Plagiattus, 2003.

O livro de Ezio Flávio Bazzo – A lábia encantadora de João do Rio – foi arquitetado com todo o cuidado para se tornar uma forma de revelação do mundo das ruas impregnado na alma de João do Rio.
João do Rio, este escritor quase maldito, mergulhou ” deliberadamente nas sombras cúmplices da madrugada urbana” e de lá, foi buscar os elementos essenciais para afirmar que existe um mundo paralelo bem diante de nossas barbas e que dele não nos damos conta, e, “em Benares, ou em Amsterdam, em Londres ou em Buenos Aires, sob os céos mais diversos, a rua é agasalhadora da miséria”… ainda.
Contendo 46 fotos feitas por Bazzo de personagens das ruas do mundo ( Paris, Montreal, Brasília, Istambul, Katmandu, Atenas, Córdoba, Roma, Havana, Jerusalém, entre outras cidades), fotos que entremeiam os textos de João do Rio em perfeita consonância e revelam a situação das pessoas que habitam as ruas, a existência de uma cultura singular e assustadora, densamente povoada e sedimentada em bases seculares do abandono.
O livro é o retrato deste mundo a parte e à flor dos olhos de todos, cegos, que ainda assim, lado a lado com os alijados da vida social, não conseguem ver esta realidade torta, desprezada à própria sorte.
Desde que João do Rio começou a falar sobre este estado de existir, o existir na rua, e o descreveu no calor de seu sentir ( final do séc. XIX) até hoje, nada mudou. Estão aí as ruas e os seres vivos-mortos que as habitam. As fotos de Bazzo comprovam este fato e ainda, por ironia, são atualíssimas, como se tivessem sido tiradas ontem.
Em seus textos, tal como Bazzo, João do Rio desce ao inferno para nos mostrar seus meandros, para nos falar deste anjo decaído que somos nós. Eles estiveram lá!

{ o livro pode ser adquirido no blog do autor: http://eziobazzo@blogspot.com]